domingo, 5 de junho de 2016

Rodando em duas faixas




Caminhoneiro Repórter
Rodando em duas faixas

                                                                                            

Além de transportar carga por todo território brasileiro, o caminhoneiro Orlando Lemos dos Santos é, nada mais nada menos, tetra-campeão do "Concurso Literário Nacional de Histórias das Estradas", promovido pela "São Paulo Alpargatas".


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Enquanto corria o ano de 1984, o país assistia as Olimpíadas de Los Angeles e se movimentava na campanha pelas Diretas Já, o caminhoneiro Orlando Lemos, atravessava o Brasil de norte a 
sul e de leste a oeste, com o seu caminhão, ganhando a vida e vivendo na expectativa de boas cargas.
Naquele ano, porém, ele tinha ainda uma preocupação especial: queria, de qualquer maneira, mandar uma história escrita por ele mesmo, "Um Anjo da Guarda com 22 Mortes", para o 1º Concurso Literário Nacional Alpargatas, de Histórias das Estradas. 
Era uma chance que ele não podia perder. Afinal, ele foi alguém que sempre se interessou muito por escrever as emoções vividas ao longo dos seus 46 anos de vida e 27 de estrada. Nesse tempo todo, nem o cansaço físico nem as dificuldades da vida de motorista, fizeram com que ele se afastasse da leitura de livros, especialmente das obras do escritor norte-americano, Ernest Hemingway e do nosso Jorge Amado, seus autores preferidos. 
Com toda essa base literária, não foi difícil para Orlando agradar os jurados do Concurso Alpargatas e, assim, ver a sua história escolhida entre as dez melhores, dentre milhares enviadas à promoção.
Depois da boa estréia, ele não parou de enviar seus textos, e foi assim que, com "Um Anjo da Guarda Com 22 Mortes" em 1984, "O Caminhoneiro e o Beija-Flor" em 1985, "Vida de Caminhoneiro" em 1986 e, "Uma Pimenta Pro Satoru" em 1987, Orlando conquistou um respeitável tetra-campeonato que o consolida como um verdadeiro caminhoneiro escritor.

                              Escutando e reinventando.

Essa capacidade de expressar emoções não é, porém, uma coisa nova na vida de Orlando. Na verdade, desde muito pequeno ele já teve oportunidade para desenvolver seu talento de narrador.
Natural de Salgado, em Sergipe, ele conta que viveu uma infância bastante livre e acolhedora numa cidade pequena onde só o prefeito e alguns fazendeiros tinham radio, sendo os únicos capazes de saber o que acontecia nos lugares vizinhos.
Para os outros, restava a alegria de se reunir e conversar. E é assim, conta ele, que depois de correr e brincar o dia todo, a criançada se sentava em torno dos mais velhos e ouvia, silenciosa, as chamadas 'estórias de trancoso'. "Eu ficava de orelhas em pé. - relembra ele -
Gravava tudo na cabeça e depois saía contando para outras pessoas. Mas aí eu reinventava tudo, mudava o jeito da estória."
Incapaz de se acostumar com a disciplina rígida da escola e com as contas de dividir, Orlando só concluiu  o ginásio. Mas, com a memória privilegiada que desenvolveu e com uma forte dose de sensibilidade, ele se converteu como que num repórter literário das estradas, escrevendo histórias que mostram tanto aspectos tristes e comoventes da vida dos caminhoneiros como também momentos de muita alegria e descontração.
Tenham uma boa leitura.

Satoru Takaesu
Repórter da revista "5ª RODA."
São Paulo - SP -  1984 




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