Não há como escapar do hino popular: "Minha vida é andar por esse país!" Qual de nós, quando menino, não quis um dia, lá na infância, ser um bombeiro, um astronauta, um caminhoneiro? É magnífico caminhar sobre rodas, rumo ao imprevisto.
Orlando Lemos. além de realizar o sonho da criança, na fantasia da aventura, pode vivê-las, registrá-las e vendê-las, provando que o sonho não é só uma miragem distante que se acaba quando a rodovia, numa ilusão de ótica, parece afunilar.
Os horizontes de Orlando não findam com um posto, com um circo, com uma mesa de bilhar, com uma cama toda troncha, com a cerveja sem copo, com a boleia pequena.
Os sonhos, mesmo tão crianças quanto o do menino que deu de cara com a estrada, foi tomando forma em ritmo de prosa e a literatura foi agradecendo, aos poucos, às experiências desse navegador do Brasil.
Pena! Já conheci Orlando Lemos adulto. E, fico aqui ao vê-lo relatar suas histórias, na fronteira do estado da imaginação com o da realidade, como seria o arteiro menino que imaginou um dia subir na boleia de um bruto e partir para as aventuras sobre rodas?
Ele nasceu caminhoneiro e, outra coisa não seria, se um dia não lhe desse na veneta de publicar as histórias que conseguiu captar, mesmo aquelas da infância, do sonho ainda menino. Ele é daquele tipo de pessoa que já nasceu com a cara do que queria ser.
E, cá entre nós, numa realidade que quase todos nós conhecemos, ele se solta numa forma de linguagem simples, acessível para todos os postos, todas as mesas de bilhares, para todas bodegas, para todas as linhas de frente de quem compõe memórias.
Escrever, para ele, é tão simples quanto escovar os dentes com águas de rios poluídos. Orlando simplifica a forma de bochechar. Cada parada justifica a conversa fiada, enquanto o bruto é abastecido para prosseguir viagem.
E, pelo que vi, sei que seguirá sem pressa e atento aos acostamentos inacabados, serras e curvas perigosas.
Crianças e adultos lerão e se divertirão com as histórias de Orlando Lemos: um caminhoneiro a serviço da literatura.
Sem poder esquecer ao hino popular: "Sua vida é andar por este país!"
Djalma Filho é poeta, escritor, teatrólogo
e diretor do Grupo Cultural.
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